O talento não é tudo

Pelo menos é o que se diz aqui e acolá. Mas se realmente não é tudo, pode igualmente não ser nada. E quando uma coisa não é tudo e não é nada, acaba por ser coisa alguma. Não passa de uma massa disforme.

Fotografia de Stephane Halleux, que também pode ser visto aqui
Mas então, a que sabe o talento? Que cheiro tem? Que cores o envolvem? O aroma, a forma... Com que se parece?

Conheci John Doe num destes dias, há uns anos cujo número não sei precisar. Estação de comboios de Praga. Eu aguardava pelo comboio que me iria levar até Budapeste, ele aguardava pacientemente por um que - quaisquer trinta minutos de observação faziam perceber - jamais chegaria a partir.

Não fui a tempo de prender a gargalhada que rapidamente se escapou, ansiosa, quando ele se apresentou. Tentei explicar-lhe, ainda que sem grande sucesso, que em Portugal o seu nome seria, eventualmente, senhor Zé Ninguém. - "Não, John Doe é mesmo o meu nome, garanto-lhe." - respondeu-me ele orgulhosamente.

Era um homem interessante, o Mr. Doe. Não no sentido estético. Não era particularmente atraente, mas havia nele uma estranha ternura. Decidi acompanhá-lo no seu compasso de espera.

A que sabe o talento? Como o reconhecemos quando o provamos?

Comentários

  1. O talento sabe a arte. Sabe àquele poucochinho de algo que torna algo de eficaz em inesquecível.
    Sabe a dom pessoal e respeito social. Atrai o outro por ser bom, e não por ser fabricado. É intangivel no valor e feito de matéria no resultado.
    Respira-se, em contemplação desmedida - não vá perder-se um pouquinho.
    É uma história a seguir, sem estações de partida ou chegada. Está lá. E pronto

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  2. Obrigada Francisco! É também esta a minha visão sobre talento, e quando se tem esta forma de ver, torna-se difícil encerrá-lo em definições, não é? Gostei da forma como o colocou. Continue a seguir a viagem ;)

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