_ perguntou-me ele após uma tosca tentativa da minha parte para lhe explicar que o talento de alguém tem a ver com um certo brilho. Em português, felizmente, é sempre brilho. Nunca tive que pensar muito na sua natureza ou origem, para o poder distinguir. Até encontrar o John Doe.
Há pouco tempo tropecei nesta imagem que, de imediato, me trouxe à memória a conversa com aquele britânico de Tower Hamlets, na estação de comboios de Praga.
![]() |
Imagem publicada numa página do Facebook, mas cuja autoria desconheço. |
É que em inglês a questão ganha toda uma nova relevância, pois eles parecem ter um número infinito de expressões para transmitir a ideia de brilho. Muitas mais do que Mr. Doe me apresentou como opções.
Recordo-me perfeitamente de, na altura, sentir que todo o meu rosto se compunha num redondo ponto de interrogação. Não fui capaz de lhe responder.
Eis o que tenho, entretanto, aprendido (e que ousarei agora formular em jeito de teoria):
- Algumas pessoas parecem ter um brilho natural, que nos faz querer parar para ver o que estão a fazer ou a dizer. Talvez Mr. Doe lhe chamasse glow ou shine.
- Outras pessoas, porém, ganham um brilho que, sendo seu por envolver a sua figura, não é verdadeiramente seu por direito próprio. E, por não ser natural, acredito que faça sentido distingui-lo como glitter ou sparkle.
Glow, Glitter, Shine ou Sparkle...
Qual é, então, o brilho do talento?
Talvez todos eles. O que muda são os olhos que o absorvem.
Ora, se é consensualmente inquestionável o génio musical deste senhor, bem menos definível é o brilho de outros que, sem terem propriamente que fazer coisa alguma, carregam em si [pelo contexto que as materializa] um forte magnetismo.
Sempre me perguntei sobre o que faz com que espantosos fenómenos como A Pipoca Mais Doce tenham, em poucas horas, centenas ou milhares de "Likes" num qualquer post com uma frase trivial do género "estou a ver TV". Não se explica, pois não?
O que todos nós queremos ver enquanto talento é o brilho natural, quase sempre duradouro, que automaticamente nos capta a atenção. Ainda assim, o que chega até nós é, muitas vezes, um brilho que encandeia, reflectido do exterior para o interior, e que dura apenas o tempo necessário para nos fazer segui-lo. E depois desaparece.
Glow, Glitter, Shine or Sparkle...
Doe, sem que mais nada pudesse fazer, encolheu os ombros e resignou-se à minha resposta fugidia. Se fosse hoje eu já saberia responder. Mas se fosse hoje já não faria sentido responder.
Comentários
Enviar um comentário