da mesma massa.

«Vês aquele comboio?» - pergunta-me Mr. Doe, enquanto tira os óculos da face, como se sem eles visse agora claramente. - «Vai para Munique. Daqui por 5 horas chegará lá».

Mirei-o com um olhar disperso e perdi-me nele, à espera de algo que tornasse aquela informação mais útil. 

Ele continuou: - «E o outro além, naquela linha, parte para Viena daqui a uma hora. Os caminhos divergem, mas os dois destinos escutarão o chiar dos carris à mesma hora.»

«E a máquina é a mesma, sabes? O alumínio amarelo-azul-prata serve de capa a quase 400 toneladas que viajam a uma velocidade perto dos 250 km por hora - bem, poderia ser superior, se lhe fosse permitido.» - acrescentou, com os olhos cheios de um brilho pueril.

«São feitos da mesma massa.» - respondi-lhe eu, um pouco sem pensar.

Na fotografia o brilho é da Diana Seabra, perpetuado aqui.
Reconheço, agora que me recordo desta conversa, que há algo em comum entre as pessoas que têm o tal brilho, de rasto mais duradouro. São feitas da mesma massa, por mais desiguais que sejam os seus trilhos. Há nelas um AMOR igual, que é - de forma igual - aplicado e transformado para ser funcional e produtivo.

A essência é a mesma, é o mesmo Amor. E está reflectido onde Dali o esculpiuonde este Pablo o pintou. Consigo vê-lo sempre que a Billie, agora na voz da Norah, o canta. Sempre que o Santana e o King agarram numa guitarra, sempre que Ronaldo marca um destes, ou  sempre que a Diana dança.


A Diana, que é bailarina porque assim se nasceu, é minha amiga. Mas, mais do que isto, ela é a personificação que mais rapidamente me surge à ideia do amor aplicado de que falo. E é fácil falar dela, porque toda a sua figura é dançante, e a sua alma também. 

Nela, o movimento físico torna-se apenas um veículo, um meio que transporta algo superiormente mais grandioso. Que a inquieta, desassossega, se não for libertado. E quando sai, o brilho é o mesmo, e deixa-nos sem ar. É feito da mesma massa.

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