A paciência não é uma virtude...


É um talento.

Virtude é passiva. É ou não é. Pouco mais se pode fazer.

O talento pede acção, acção que é feita, acção que se faça.

A paciência é um talento porque é mais do que esperar. Muitas vezes nem sequer é esperar. Esperar é só estar. E paciência, não poucas vezes, é ter de ir quando apetece ficar, ter que falar quando apetece calar.


Os 2500 carrinhos do fabuloso "Car Atlas" de David T Waller

Todos sabemos esperar, mas nem todos os que esperam sabem pelo que esperam. Mais do que esperar, o talento está em aguardar, em guardar o que está para vir, enquanto se aprende que o tempo só é vivido se for antes de passar.

Foi o que pensei quando o vi, naquela manhã fria em Praga, andando de um lado para o outro. John Doe aguardava.

E foi em Mr. Doe que pensei quando, há uns tempos, no parque onde corria, passei por uma placa que dizia:

"Paciência e tenacidade valem mais que o dobro do seu peso em inteligência".

A paciência é um talento porque pede sabedoria. Sabedoria para esperar bem, sabendo pelo que se espera, por quanto tempo vale a pena esperar, e o que fazer enquanto isso.

"Pencilheads", mini-esculturas em lápis, por Ragna Reusch Klinkenberg para uma campanha publicitária, lembrando isto.

E é um talento porque pede coragem. Daquela coragem tímida, que não faz barulho mas que, sem ladrar nem rugir, aparece quando tem que ser.

Pregos, martelo e paciência esculpem o talento de Marcus Levine.
9000 rolhas de cortiça, muitas horas e a paciência de Scott Gundersen
4000 Copos de Café, paciência e o sorriso de Monalisa, aqui.

Arriscaria em definir paciência como o talento de esperar de forma planeada. Como quem conta o compasso da corda a bater no chão, para entrar no tempo certo de saltar. Como quem o tempo em relógios sem ponteiros, para entrar no tempo certo de viver.
 
- «A paciência é uma virtude» - foi a frase que havia despoletado toda a conversa.
- «Não, a paciência não é uma virtude, é um talento» – respondeu-me, movendo a cabeça em consonância.

Retirou do bolso um pequeno pedaço de papel amachucado:
“O tempo acontece no seu próprio tempo. E a vida acompanha-o, como se mais nada soubesse fazer, como se pouco mais pudesse fazer”.

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